19 de fev. de 2016

Resenha - O Regresso



Devo admitir que "O Regresso" apenas me chamou atenção graças ao seu filme, extremamente elogiado, ganhador de diversos prêmios e grande indicado ao Oscar (melhor filme, ator, diretor, fotografia, figurino e mais 7 indicações). Como pode uma adaptação de um livro ter ficado tão boa? Eis então minha compulsiva busca por adquirir e ler este livro.

Um dos fatores que deixam a história ainda mais interessante é o fato dela ter sido inspirada na história real do caçador Hugh Glass, que viveu nos séculos XVIII e XIX, tornando as cenas de tensão, como o ataque a Hugh Glass por uma ursa, logo no começo do filme, ainda mais aterrorizantes.

Glass lutou para controlar a própria reação enquanto considerava suas opções. Evidentemente, seu reflexo gritava para ele fugir. Voltar para os salgueiros. Ir em direção ao rio. [...] Seus olhos procuraram desesperadamente uma árvore para escalar; talvez conseguisse subir para longe do alcance da ursa e, então, atirar. Mas não, as árvores estavam atrás do animal.

Hugh Glass - XIX

O ataque da ursa é o que na realidade trilha toda a história, pois após Glass ter ficado extremamente destroçado, porém vivo, seus amigos da Companhia de Peles Montanhas Rochosas decidem continuar a jornada, porém, no meio da caminho percebem a intempérie causada pelo corpo praticamente morto de Glass. Deixando-o para trás, com outros dois caçadores: o encrenqueiro e famigerado Flitzgerald, e com Bridger o mais jovem e inexperiente caçador do grupo. Sendo a única missão da dupla enterrar o corpo de Hugh Glass após sua morte, para que tivesse um funeral decente. 


Mas o jogo vira, quando Flitzgerald, que não aguenta mais esperar a morte de seu companheiro, conta para Bridger que um grupo de índios esta indo na direção deles, e que precisam ir embora o mais rápido possível. Fogem então, porém, não simplesmente fogem, mas levam de Glass tudo aquilo que ele poderia precisar para sua possível sobrevivência, mesmo após pedir para que deixem-no com seu rifle.

O livro O Regresso traduz em palavras muito bem escritas a busca de H. Glass por vingança, em uma história dramática e longe de alguns padrões atuais. Apesar de claramente o autor, Michael Punke, buscar a diplomacia em grande partes das ações, o livro está cheio de sangue de índios, brancos e animais e leva nós leitores para um ambiente completamente inóspito, em uma difícil e comovente viagem, que inclui a superação de uma morte iminente, e transforma nós leitores em um braço amparador, que levará o protagonista ao seu destino final, vivenciando cada suspiro e cada paisagem, como nos detalhes descritos no trecho abaixo:

Era um intervalo que ele considerava tão sagrado quanto o dia de descanso religioso, a breve transição entre a luz do dia e as trevas da noite. O sol que se punha levou consigo a severidade da planície. Os ventos uivantes se abrandaram, substituídos por um silêncio completo que parecia impossível para uma vista tão grandiosa. As cores também se transformavam.

Depende portanto de nós, continuarmos a leitura, criando em nossa imaginação todo o ambiente vivenciado por este guerreiro em busca de vingança, que mostra como a vida pode deixar de ser alienada quando temos um objetivo em mente, no caso do protagonista, sua vingança, e sinceramente, vale a pena ler as 266 páginas para saber qual será a conclusão dessa história.

Obs: Nas últimas páginas do livro o autor deixa claro que ele, apesar de inspirado em um história real, tem por consequência uma ficção, porém baseada em muita pesquisa, explicitando portanto os fatos que são verdadeiros, os que possivelmente são verdadeiros, e aqueles que ele realmente criou sem comprometer a história.

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